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Pão-de-Ló (de Margaride)

   

A Freguesia de Margaride, mencionada nas inquirições de 1258, com a designação de vila Margaride, pertence ao distrito do Porto. A povoação de Margaride foi elevada à categoria de vila de Felgueiras, por carta de D, Maria II, datada de Março de 1846.

É na cidade de Felgueiras, sede do concelho e comarca do mesmo nome, atravessada por estradas, que se dirigem para Guimarães, Fafe, Amarante e Lousada, que se fabrica o afamado pão de ló de Margaride, cuja história vamos fazer resumidamente, servindo-nos de informações que nos forma dadas, de elementos que colhemos e de documentos que consultamos.

Uma Mulher, de nome Clara Maria, principiou a fabricar o pão de ló, ou pão leve, como foi e é, ainda hoje conhecido, numa casa de telha e colmo, no sitio onde estavam umas casas que pertenceram a umas senhoras, chamadas de Almeidas, da família de Almeida e Justina, do Tanque. O terreno era foreiro à casa de Fijó, da freguesia de Margaride.

Com a referida Clara Maria, que supomos ser a pessoa que, com este nome, faleceu no lugar do Tanque, em 27 de Novembro de 1831, no estado de viúva, vivia Antónia Filix, cujo sobrenome verdadeiro ignoramos.

Leonor Rosa, que se dizia ser filha natural dum marinheiro graduado, irmão de D. Albina Máxima Pimentel, senhora que possuía umas casas, que foram compradas por Joaquim Luiz da Silva no sitio das quais edificou um grande prédio, que pertence hoje à família Lickfold, na cidade de Felgueiras, foi enjeitada na roda do Porto. Do seu boletim, passado pela Real Admnistração dos Expostos do Porto, assinado pela secretário Camêlo, em 27 de Fevereiro de 1827, se vê que Leonor Rosa , exposta n.º 958, com registo no livro 204, a folhas 302, foi entregue à ama Clara de Maria, Mulher de António Pinto, do Lugar da Corredoura. O primeiro pagamento, de 5000 réis, à ama foi feito em 29 de Março de 1827, acabando a criação de Leonor em 22 de abril de 1831, que antes de ir para a companhia da Clara esteve em casa de D. Albina Pimentel.

Morta a Clara (neste mesmo ano de 1831), Antónia Filix que com ela vivia, continuou a fabricar pão de ló, tendo em sua companhia Leonor Rosa. Antónia Filix tinha como criados um mudo natural da freguesia de Margaride e uma mulata. O Mudo era quem batia a massa do pão leve, com dois bocados de cana, num alguidar de barro. A Filix, chamou para casa uma mestra par ensinar a Leonor a ler, escrever e bordar.

Leonor esteve em casa da Filix até aos 16 anos, tendo sido raptada por José Joaquim de Sousa, conhecido por José Marchante e José Ló da Lixa, e que veio para Margaride como escrevente de Joaquim Ribeiro, secretário da Admnistração do concelho de Felgueiras. José Joaquim de Sousa era filho de António Joaquim de Sousa e de Ana Joaquina, da Corredoura. Casou o Sousa com Leonor Rosa em 3 de Fevereiro de 1840, na freguesia de Margaride, recebendo-os o pároco Luiz António de Sousa, que era da família da casa do Curral.

Depois do casamento, a Leonor foi fabricar o pão de ló para a Lixa.

Quando a Leonor se casou, ficou como criada de Antónia Filix, Marina, natural da freguesia de Caramos, filha de José Ferreira e de Mariana de Sousa, que então teria 15 anos de idade.

A Filix, porque a casa em que morava se vendeu, mudou-se para a casa que fora do Sabido e que lhe fora deixada (?) pelaClara, sua antiga patroa. Esta Casa ainda existe, em frente a Blém. É térria e de Telha e pertenceu às senhoras Ferreiras.

Por morte da Filix, que deixou como herdeiro José Viana, ficou a criada Mariana, que recebeu móveis e a louça, a fabricar o pão de ló, na mesma casa. Teve a Mariana vários filhos naturais, entre eles Delfina, em 29 de Setembro de 1855 e Leonor, nascida em 27 de Janeiro e 1851, dos quais foram padrinhos a Leonor Rosa e o Marido.

No assento do nascimento de Delfina, é sua mãe a Mariana, indicada como doceira. Mariana faleceu em casa de Francisco Carvalho, no lugar da Corredoura, em 24 de Outubro de 1860, com a idade de 35 anos, doceira de profissão, e dela ficou herdeira a irmâ Josefa. Uma criada que foi da Mariana, de nome Joaquina, era quem amassava o pão de ló que vendia Justina Adelaide Leite de Freitas, da vila de Felgueiras, falecida há mais de 40 anos.

Em Março de 1843, como se vê num assento de nascimento de José, filho de José Teixeira e de Bebiana, da Corredoura, morava a Leonor Rosa na Corredoura, nome este dado ao Largo em frente aos Paços do Concelho. È lugar que já vem mencionado nas inquirições de 1258: in Coredoira jacent j leiras...

A primeira fábrica de pão de ló, ou pão leve, de Leonor Rosa, foi montada numa casa, situada no lugar do Tanque, na povoação de Margaride, pois então ainda não tinha a categoria de vila, casa essa que foi demolida, onde está hoje uma casa grande de dois andares, que pertenceu a Bernadino José da Cunha, negociante durante muitos anos e da qual são possuidoras suas filhas D. Júlia e D. Deolinda da Cunha Ferreira Leite.

Nessa casa do Tanque morava a Leonor Rosa. Em Abril de 1848, ano em que, juntamente com o marido José Joaquim de Sousa foram padrinhos duma criança, de nome Leonor, filha de António Lopes e de Emilia ferreira, da Rua de traz, como se vê no respectivo assento de nascimento.

Dessa casa, no lugar do Tanque mudou-se a Leonor para umas casas, situadas no largo da Corredoura, que eram da família dos Costa Guimarães e que, mais tarde forma expropriadas, pela Câmara Municipal, para alagamento do largo.

Dessa referida casa, no lugar da Corredoura, mudou-se a Leonor para outra, situada no mesmo lugar e que também foi expropriada. Nela casou a Leonor, segunda vez (pois tinha morrido o marido José de Sousa), com João Ribeiro, oficial da Câmara Municipal de Felgueiras, filho de António Ribeiro faleceu em Agosto de 1872, sem descendentes, instituindo a mulher como herdeira. Da herança, consistente em bens móveis e imóveis, no valor de 356 738 réis, foi paga a contribuição ao Estado, em Setembro e 1874.

Dessa casa do segundo marido mudou-se a Leonor Rosa para outra, no sitio onde actualmente está instalada a fábrica o pão de ló de Margaride, de Leonor Rosa da Silva, Sucessor, casa que foi comprada a António Pinto ferreira e mulher Bernardina Pereira, em 20 Janeiro de 1875.

Leonor Rosa, para que Joaquim Luiz as Silva casasse com Delfina Ferreira Viana, solteira que era criada da Leonor, doou ao Joaquim Luiz, em 14 de Janeiro de 1875, a casa em que habitava, foreira a José Pinto de Sousa Vasconcelos, a qual era contígua às casas de Delfina Ribeiro e irmã Umbelina e tinha o valor de 1 200 000 réis. Quer o Joaquim Luiz casasse, quer não ficava obrigado a sustentar, vestir e calçar a doadora, a tê-la na sua companhia , a fazer-lhe o enterro e a dar 500 000 réis a José Martins da Cunha Sampaio.

A Leonor achou depois preferível tomar o lugar à criada e casou-se terceira vez com Joaquim Luiz da Silva, em 10 de Outubro de 1876, continuando a Delfina como criada, a qual depois casou com António Joaquim de oliveira.

Delfina Ribeiro, irmã de João Ribeiro, segundo marido da Leonor, faleceu em Agosto de 1876 e deixou como herdeira sua irmã Umbelina de Jesus Ribeiro. Esta faleceu no estado de solteira, em 10 de Outubro de 1891 e deixou a Leonor Rosa da Silva e o marido Joaquim Luiz da Silva como herdeiros. Da herança faziam parte umas casas que ficavam por detrás da casa da morada de Leonor, como já vimos acima.

Leonor Rosa da Silva faleceu a 9 de Julho de 1898, sem descendentes e instituiu como herdeiro o terceiro marido Joaquim Luiz da Silva, por testamento, datado de 12 de Julho de 1877. Joaquim Luiz da Silva, faleceu em Junho de 1909, sem descendentes e deixou testamento, no qual declara como herdeiro, seu irmão José Maria Luiz da Silva, falecido, em 1940, ficando o seu filho, José Maria Lickfold da Silva, como proprietário da fábrica do Pão de Ló de Margaride - Leonor Rosa da Silva, Sucr.

Como já vimos, o fabrico do pão de ló ou pão leve, em Margaride data de há mais de dois séculos, pelo que se sabe. O da casa de Leonor data de há um século e meio.

Leonor Rosa, durante mais de cinquenta anos de trabalho porfiado e inteligente, conseguiu tornar conhecido em Portugal e no Brasil o seu pão de ló de Margaride, cujo nome é hoje bem persistentemente cobiçado.